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Blog do Vavá da Luz

DUNGA JUNIOR EM PROSA E VERSO : Ex-deputado declama em Cordel problemática da seca e pede providências ao governo

O ex-deputado estadual Dunga Júnior se utilizou neste domingo do seu microblog Twitter para contar, em versos, o sofrimento do homem do campo por conta dos efeitos causados pela estiagem no semiárido nordestino.
Conhecedor das questões que envolvem a seca, Dunga Júnior reeditou o cordel Água pra Comer, escrito em 2007, e faz um apelo veemente ao governo federal para que encontre uma solução prática para o problema. Em seu cordel, Dunga Júnior retrata com propriedade o cenário desolador que hoje toma conta do interior do Nordeste e diz que o pequeno agricultor vive uma realidade muito preocupante.

Confira o cordel Água pra Comer

Esse cordel escrevi em 2007, atualíssimo reeditarei com atualizações.

CORDEL “ÁGUA PRA COMER.” ATUALIZADO 06 DE ABRIL 2013

AUTOR DUNGA JUNIOR

vida me reservou coragem

Muita força pra vencer

Em casa ta faltando tudo

Letras, roupas e que comer

Me falta até água

… Água doce, água de beber

Como se não bastasse

A seca que todo ano vem

Ta chegando num agouro danado

Nessas terras de gente de bem

Amedrontando, chorando e matando

Eita, é seca de vidas também

O cenário vai logo mudando

Mato, menino e mulher

Das quenturas do sol causticante

É preparar pro que der e vier

Homens tens as faces queimadas

Desse jeito não arrasta pé

Bicho morrendo pelas estradas

Um cemitério traçando o caminho

Em grupo, bando ou sozinho

As carcaças são encontradas

Bode, boi, jumento, asa branca

Sentimentos de almas penadas

Chega a hora de minha mesa

Olho em volta o que servir

Nos olhos pidonhos da fome

Minha palavra não pode engolir

Não tem pão nem vinho

Só água, é o prato a servir

Bem cedo pulei a fome

Quando não tentei acordar

No almoço perdi o tempo

A barriga tentando driblar

É chegada a hora da ceia

Só a água pra fome matar

É um prato de água coada

Resto lama de barreiro seco

Muito turva faz sentir o gosto

Da lama que mistura o resto

É a refeição que tenho agora

Na mesa posta coração aberto

Quando o barreiro seca

Vem logo aperreação

Se findou a última gota

Da chuva última de meu sertão

Agora só noutro inverno

Posso encher o meu matulão

A chuva quando escassa

Traz miséria desolação

Sofrimento e desgraça

Causa engano e desengano

Sabendo ainda que todo ano

Tem uns tempo de sofridão

Os meninos crescem as barrigas

Mudam de cor enrolam os cabelos

Entristecem mudam as faces

Já me deu foi desespero

Calo a voz emudeço o canto

Não correm dorme mais cedo

E agora seu Doutor

Roubar ainda não me atrai

Quero comida mesma que seja água

Pois ela hidrata e satisfaz

Será água limpa em meu pote

Que me faz vida e paz

Faltando comida dói

Faltando água dói muito mais

Sinto que tô meio desanimado

Tenho que correr atrás

Poço até morrer de fome

Mas de sede humilha mais

Venho novamente suplicar

Num grito velho roncador

Quero água do São Francisco

É muito pouco só um veio

Pra que este canto de muito tempo

Dê um fim a essa dor

Todo querendo é pra beber

Que no meu prato é refeição

Tem muita gente precisando

Água pra muitas situação

Tem que ser pra toda vida

Aqui água também é comida é pão

Num careço ser mais usado

Por politiquice indecente

Caminhão pipa só irriga

O voto do mais carente

Trocar água por voto

Pro sofrer de muita gente

No cantar meu cariri

Um clamor se faz ouvir

É a seca que já assola

Voltou forte sem chuva cair

Traz a fome muita sede

Fazendo gente fugir

É de novo a terra ardente

Que pra nós já é missão

Se do céu não vem a chuva

Não vou julgar judiação

Pois se noutro rio ela sobra

É só fazer logo a ligação

Liga a água daquele rio

Para o rio que água não tem

Mata logo a minha sede

D’agua doce que desse vem

Vou rezar, orar fazer preces

São Francisco digo amém

Essa água que deságua

Vai correndo até o mar

Eu só quero um pouco só um caneco

Presta água nos salvar

Tenho sede d’água doce

Que pro mar ai se salgar

Essa água do São Francisco

Muitas idas vai salvar

Vidas de homens Severino

Retirantes desse Lugar

Que chegando a água doce

Quer de novo seu natural

Quando aqui a água tem

Os meninos brincam então

A estiagem é por uns tempos

Já tem estudos com precisão

Agora é hora de se ater

As necessidades e solução

Esses modelos de interligação de águas

De acabar com sequidão

Já deu certo em outros lugar

Onde ha coragem e decisão

Dona Presidente lhe peço agora

Toque a obra com mais razão

Agradecemos aos auxílios

Que aparecem na ocasião

Cestas básicas, bolsas, carros pipas

Politicagem da região

Vamos acabar com essa brincadeiras

Com o povo, gente, nossos irmãos,

Aos irmãos nordestinos

Todos em prece e oração

Dividir a água que sobra

Pra matar a sede de nós

É repartir um pão com a sede

Pois será pão pra todos vós

Quero viver sem retirar

De minha gente meu lugar

Noutras terras pode ter

Agua boa até sobrar

Fico aqui vou vivendo

Sei que um dia essa água vai chegar.

Dunga Jr.